quinta-feira, 21 de julho de 2011

Capítulo 4 - Início

DESENCONTROS GRAFADOS

P3 / FLORES NO ASFALTO



Capítulo 4



BH, 03 de janeiro de 2005


Querido amigo Darío,

    Tudo bem? Espero que tenhas sobrevivido a saudade.
    Tenho tentado entrar em contato contigo desde abril do ano passado, quando cismei que era teu aniversário (Qual a data mesmo?)
    E que papo é este de sermos estranhos um ao outro?
    Certo. Hoje ando mais envolvido com artistas e eventos, e assim vivo menos solitário.
    E vou sentindo a sua falta!
    Por que não respondi a tua carta? Aquela longa e política? Não respondi por sentir a distância entre nós. Eu me decepcionei e considerei você um covarde, deixando a pátria terceiro-mundista e se abrigar no velho continente.
    Lembro que escrevi uma carta toda filosófica e pessoal e você escreveu outra toda carregada de política européia!
    Sou um pouco culpado, por sua deserção, digamos. Os projetos, nos quais meditamos em 2000, foram por água abaixo. Não conseguimos moradia, eu perdia a Bolsa, fiquei com a mesada e o auxílio do Flávio, etc.
    Hoje em dia eu me sinto um mineiro casca grossa falando com um sujeito cosmopolita. Nunca saí de minha terra, nunca dei a mínima para o tal sábia... .
    E o nosso esquerdismo? Mais marxistas que Karl Marx? Se lembra? Você bem que pudia enviar alguns daqueles posters soviéticos, hein?
    E quanto aos meus trabalhos, tenho reunido dados sobre a Ditadura, e escrito ensaios sobre fascismo e mídia. Crítica literária também. E eventos, por enquanto para o setor público.
    Muita coisa (três anos!) para ser resumida numa carta.

Até mais,

Seu Hector





De: Darío Sabine [dario_sabine@X.com]
Para: Hector Dias [hector_dias@XX.com.br]
Assunto: uma carta
Data: Thu, 06 Jan 2005 - 16:25



    De saudade se vive ou se vai vivendo...saudade de uma terra imaginária, difusa em imagens diversas, emoldurada num retrato ideal que quase sempre nada de perceptível possui. Eu me sinto num planejado exílio, distante de tudo e de todos, até mesmo de mim mesmo, num processo de reeducação, reencontro, reestruturação da minha vida como um todo.


    Eu preciso ver o mundo, preciso senti-lo, percebê-lo... para simplesmente me reconhecer como um mineiro "casca grossa" como você. Eu preciso entrar em diálogo com pessoas que o mundo com outros olhos ou interesses fitem, preciso compreendê-las para que eu possa compreender a mim mesmo melhor.

    Talvez haja nisso algo de cosmopolita, mas é na verdade uma busca de si mesmo através do outro. Se deixar espelhar nas vitrines da velha Europa, reconhecer as diferenças e as semelhanças, o que nos une e nos separa de maneira irremediável.




De: Darío Sabine [dario_sabine@X.com]
Para: Hector Dias [hector_dias@XX.com.br]
Assunto: uma resposta sem resposta
Data: Sat, 08 Jan 2005 - 13:53


    Viver à distância é uma experiência interessante, às vezes gratificante, mas ao mesmo tempo dolorosa. O sentir-se estranho perante o próprio dia-a-dia é algo bastante intenso. Mesmo quando encontro com os inúmeros brasileiros que por aqui vivem, estudam, trabalham, passeiam...é algo estranho, sem razão de ser. Afinal o que posso ter em comum com alguém do interior de Pernambuco, de Belém, ou de Santa Catarina, senão "apenas" o fato de sermos brasileiros e de falarmos Português?




BH, 07 de janeiro de 2005


"Sem dúvida teve um fim a minha personalidade.
Sem dúvida porque se exprimiu, quis dizer qualquer coisa."
(Álvaro de Campos/Fernando Pessoa)



   Meu caro amigo Darío,

    Que torrencial a tua carta!
    Deixe-me tomar fôlego.
    Precisamos definir um tema para os nossos debates filosóficos. Vai uma sugestão: a Identidade. O que é ser brasileiro?
    Eu tenho dificuldades em definir tal situação. E, às vezes, me percebo francês, irlandês, sei lá. Ou serão lembranças de vidas passadas? (Brincadeira...)
    Ainda bem que a arte transcende terras, supera idiomas. Não importa se o sabiá, do Gonçalves, ou o nightingale, do Keats, nós passamos além, não nos limitamos em categorias, assim como dizia o Mário de Andrade, "Eu sou trezentos, sou trezentos e cinqüenta, mas um dia afinal eu toparei comigo."
    A Identidade é então apenas a Base (ou um trampolim), ou seja, onde encontramos uma comunicação com o Outro - um idioma, uma cultura, uma Nação, etc. A mente desperta flutua, transcende a cultura, fica boiando, algo deslocada, e assim pode se emocionar com as baladas irlandesas, com os poemas franceses, que se tornam novos portos.
    Os Flutuantes andam pelas ruas, e vivem em efeito mundo-simulacro, sentem a náusea em tudo. Por isso não me sinto só. "Não fujo do ridículo. Tenho companheiros
ilustres."
    Entende? Ora, contigo eu sei que posso ousar citações.

    É isso. Depois, escrevo mais.

Seu Hector




BH, 19 de janeiro de 2005


Prezado Alfonso,


    Espero que tenha alguma novidade. Eu tenho muitas. Escrevi quinze contos neste fim de ano, e tenho outros dez borbulhando no cérebro. Traduzi muita coisa.
    Lembrei que prometi escrever um ensaio sobre o seu livro de ensaios! Mas você ainda não escreveu uma resenha sobre os contos que já divulguei. Que tal se saldássemos nossas dívidas?
Estou cuidando dos preparativos para a II Exposição de Poemas, Mas há muita burocracia nisso tudo.

    E curiosidade: quem é esse Bruno Bettelheim, e esta de que a nossa reação diante dos livros está ligada ao que temos em nós mesmos e não no que os livros dizem? É muito do que penso. Não lemos para aprender algo, mas para confirmar o que já sabemos. Se leio Drummond é por encontrar-me em seus versos, e quando leio obras de Fernando Pessoa, eu sou Fernando Pessoa.
    Se fiquei magoado, em certa ocasião, com ironias suas, foi por notar um descompasso entre o que você sabe e o que demonstra. É jovem e não mede as conseqüências dos atos. E uma vez me perguntou se havias me magoado e respondi que não. Mas aquela noite, no banquete da Óbvio, suas ironias conseguiram me irritar.
    Por que ficar zombando assim dos que estão próximos e que confiam em sua pessoa? Por que esta dupla face: o intelectual, pensador e solene, e a do  sarcástico iconoclasta?
    Se tomo a liberdade de escrever tudo isso é por considerar você alguém especial.

    Té mais,

                 Hector



BH, 19 de janeiro de 2005


Prezado artista,
Prezado amigo Michael Bishop,
minhas saudações.

    Apesar de todas as nossas conversas ainda não pude me apresentar. Permita-me agora: sou um artista, e promovo eventos artísticos. Também escrevo. Poesia e prosa. Ocupo-me de traduções.

    Nasci em BH e fui criado no Barreiro, e meus ascendentes vieram de Itabira e Diamantina, e atualmente transito entre BH e Contagem.
    Penso já ter dito porque a Óbvio me interessa. Justamente por congregar artistas e juntar filosofia, teatro e poesia!
    Por que o Sr. Michael Bishop me interessa? Por ser a personificação do multi-artista, que atua na música, na escrita, na performance. O ser que é único por ser vários, por absorver em si mesmo a Pluralidade. E eu sou um ansioso por Multiplicidade - gostaria de ser todas as pessoas em todos os momentos em todos os lugares! Mas sou obrigado a ser eu mesmo! A viver com o meu limitado ponto-de-vista. Afinal, não há lugar privilegiado para se ver o mundo. Tudo é Representação, tudo é Perspectiva, tudo é Interpretação. Imagino que o Sr. Já leu Schopenhauer e Nietzsche.
    Sofro a megalomania de Álvaro de Campos - a de querer abraçar o mundo, sentir todas as sensações, degustar todos os sabores, gozar com todas as garotas, me entregar a todos os rapazes, me internar em todos os hospícios, ser o ditador de todos os países, o Himmler de todos os campos de concentração, o Lênin de todas as revoluções, o Gandhi de todos os atos de desobediência civil!
    Mas me desculpe os devaneios.

    Espero resposta.

    Um poético abraço,

    Hector Dias.




BH, 19 de janeiro de 2005


    Prezado escritor Vittorio,

    Como vais?

    Estou impressionado com os teus telefonemas. O ídolo ligando para o fã! Estou sem palavras. Pois sou o seu fã. E o Alfonso até acha que sou meio exaltado! Mas, sério, Vittorio, eu não conseguia imaginar você um sujeito sóbrio. Só imagino a figura: o Poeta embriagado! Vertendo o vinho em poemas lunáticos. E eis que o escritor que ouço ao telefone tem voz pausada, até tímido, é metódico, é racional, demonstra controle de si, e não bebe! E é CONTRA o vício! Realmente, como diz Fernando Pessoa, "o poeta é um fingidor" ?
    Penso que o Poeta deve ir-além, deixar as convenções. Daí eu gostar da sua poesia. Exaltada, alucianda, toda sensações! Não se importa com racionalidades, é toda emoção!
    Espero não precisar lamentar a morte do poeta Vittorio no cidadão Vittorio. Espero que o cidadão Vittorio seja apenas um nome num cartório e num punhado de documentos (catálogo do Estado!) e que o poeta Vittorio seja a real personagem.
    Não somos um número, somos seres humanos. Somos interpretações de nós mesmos!
    Muito sucesso!
   
    Abraço poético!

    HD




De: Darío Sabine [dario_sabine@X.com]
Para: Hector Dias [hector_dias@XX.com.br]
Assunto: alguém para conversar
Data: Thu, 20 Jan 2005 - 14:27

    Eu admiro bastante Artraud, quase tanto quanto Queneau. Essa forma bela de se referir a vida, que eu nunca tive e acho que nunca vou ter. A capacidade de se perguntar, “Quem sou eu? De onde venho?” e de responder a essas perguntas como algo simples e certo. Ah meu amigo, quem me dera poder te dizer quem sou, mesmo que liricamente!

    Pois é, há quanto tempo somos amigos! Sinto tua falta, também foste minha primeira amizade intelectual. Aqui sinto falta de alguém com quem possa conversar assim como contigo.





De: Darío Sabine [dario_sabine@X.com]
Para: Hector Dias [hector_dias@XX.com.br]
Assunto: Resposta a sua carta
Data: Sat, 22 Jan 2005 - 17:33



    Mein Lieber Freund Hector
    ah, como posso compreender-te! Considero válido e consolador este sentimento mútuo que em dúvida postulas: sim, nós somos capazes de nos compreender;
Essa angústia, esse sentimento de incompreensão, de distanciamento e sobretudo de solidão também me é bastante intenso.
    No momento me sinto como se minha vida fosse um conto de Clarice Lispector e eu, uma de sua personagens; que entre o amor e esta intensa angústia de existir me sinto sufocado pelo mesmo, pela sua segurança, pela sua certeza. A vontade de servir a algo maior e não a mim mesmo. Ter uma vida inconvencional por convicção; “ Senhores eu sou um poeta!”
Meu amigo: há pouca poesia além dos olhos do poeta!
    Vivo em um mundo que me parece uma grande ilusão, uma obra de minha mente fantasiosa. Talvez esteja vivendo uma fábula onde tudo é possível ou ao menos parece sê-lo. (Síndrome de Amélie Poulin).
    A melhor ficção é a de se viver, meu caro!

    Abraços saudosos de seu amigo Darío.




De: Darío Sabine [dario_sabine@X.com]
Para: Hector Dias [hector_dias@XX.com.br]
Assunto: é preciso dialogar
Data: Sun, 23 Jan 2005 - 18:51


    Acho que preciso reaprender a dialogar. Normalmente analiso, tiro conclusões, faço associações em questão de segundos. Perdi a paciência de esperar que meu interlocutor me entenda e acompanhe meu pensamento. Muitas vezes acabo por parecer superficial, pois considero que poderias restabelecer a minha linha de raciocínio apenas com algumas meras informações. Esqueço do fato de um texto possuir sempre dois autores, o autor em si e o seu leitor.
 Quando leio algo sobre uma fria noite inverno, por exemplo, tenho uma outra interpretação da mesma agora, do que antes. Antes eu tinha uma idéia vaga de uma fria noite de inverno, agora posso compreender melhor o que se esconde por trás destas palavras, pelo menos para um autor europeu. Bem, de volta aos olhos de Amélie e aos óculos de Neo. Claro, que não prefiro Amélie Poulin apenas por sua história se passar em Paris e pelos seus belos olhos, bitte! Ela desde pequena percebe que o mundo é uma fantasia, uma fábula e que ela é sua personagem principal (visão egocêntrica ). Por crescer isolada das pessoas, apenas observando-as em sua vidinha ela entende como as coisas funcionam, ela decifra a máquina do mundo, ela se vê na Matrix. Como adulta Amélie faz uma grande descoberta, por saber do que os outros não sabem, ela pode manipular as pessoas, transformar suas vidas sem que elas percebam. Neo ao ter consciência disso para balas no ar, Amélie faz de si mesma uma Sub-Matrix; decide ajudar ou pertubar as pessoas. Ela está desperta os demais não. Pra quê tentar salvar a todos como Neo e seus amigos, se na verdade ela não se simpatiza com todos. Lembra dos passageiros do ônibus, você simplesmente não os salvariam. Assim somos nós seres humanos: “Menschlich, allzumenschlich” como diria Nietzsche.
    E se vivéssemos num grande romance escrito por alguém, o Autor do “grande livro da humanidade”; se todos fôssemos apenas personagens do grande romance universal? Tudo bem, um romance com 7 bilhões de personagens?! Isso estaria mais para uma novela sem fim. Talvez a vida de cada um nós seja um conto, sete bilhões contos paralelos! Alguns entusiasmam o próprio autor e então ele trabalha neles mais intensamente, outros ele deixa apenas como esboço. Já uns acabam por entediá-lo e ele resolve de repente parar de escrever, enquanto outros lhe são tão desinteressantes, que ele os encerra antes mesmo de começar. A maioria não o interessa muito, mas ele deixa fluir afinal, já que ele começou a escrever, quem sabe a história pode tomar um rumo inesperado, acabar por interessá-lo.




1º de fevereiro de 2005


Querido amigo Darío,

como vai?

Ando muito ocupado atualmente. Mas encontro uma pausa para escrever. Estou traduzindo Baudelaire e ouvindo música clássica!
    E volta a questão: serei por acaso brasileiro? Sou mais europeu que muitos aí ao seu redor, onde você é mais brasileiro que muita gente daqui. Afinal quem é estrangeiro? Quem é o exilado? Por que eu sofro com cada morte inútil na Segunda Guerra Mundial? (Refiro-me a esta devido aos meus constantes estudos.) Às vezes, eu sinto que eu estava lá!
    Nos submarinos sob as águas revoltosas do Atlântico norte, nos campos de concentração nas florestas da Polônia, nas areias do deserto ansiando pelo Cairo! Às vezes, sou o sentinela do KZ, e, às vezes, sou o jovem judeu de tranças cortadas, cabeça rapada e que perdeu toda a família! Às vezes, sou o rebelde no guetto de Varsóvia, ora sou o SS encarregado das execuções em Praha, ora sou o russo que ergue a bandeira vermelha sobre as ruínas de Berlim!

    Serei o brasileiro lutando em Monte Castelo? A melodia acabou - agora, Beethoven e a sonata ao luar - a noite caiu. Serei o brasileiro ao escrever os tantos versos que lembram o expressionismo alemão? Eu que já não entendo Cabral de Melo Neto nem Ariano Suassuna, nem "Hoje é dia de Maria"?
    E você, por acaso, é brasileiro fã de mulher-cerveja-carnaval? O que é ser brasileiro na Europa? Vestir a camiseta com nome e o número do Ronaldinho? Andar vestindo verde-amarelo? O que é ser literato latino-americano? Realismo fantástico e técnicas de guerrilha? O politicamente correto discurso contra as desigualdades sociais? Sobre o que eu posso escrever?
   
Esclareça-me.

Seu HD





BH, 07 de fevereiro de 2005


    Saudações, caro Michael Bishop.

    Como está?
    Espero que estejas bem.
  
    Eu vou bem, e lembrei de velhas sonoridades guardadas nos baús. Fiquei ouvindo melodias progressivas. Triumvirat, de 1973, Pink Floyd, Darkside (The Lunatic is on the grass... ), também coletâneas do Yes (Close to the Edge...), Jethro Tull (Cross-eyed Mary), e Emerson, Lake & Palmer (e o admirável Tarkus!), além de Vangelis e a trilha sonora de Blade Runner!
E que viagem! Estive no distante futuro, caçando andróides, estive nas cidades flutuantes onde o sol jamais se esconde, estive nas ruínas de London bombardeada, estive no manicômio junto com Syd Barrett, me encontrei com o flautista nas florestas de Hamelin, dancei com as garotas-elfo sob uma chuva de néon!
    E achava surreal e o Helmut do Triumvirat com aquele inglês com sotaque germânico, e gargalhava junto com o lunático no lado escuro da lua, e me exaltava com as perseguições de Harrison Ford. Nem a voz infantil de Jon Anderson conseguia me acalmar, nem as atmosferas psicodélicas do moog de Emerson, Lake & Palmer. Devo, no entanto, reconhecer o esforço de Wakeman.
    Depois a magia findou, the dream is over, voltei a realidade, ouvindo as marchinhas de carnaval, fugindo da casa do vizinho – eu estava no Brasil! Precisava recuperar o 'brasileiro', comentar o último lance do Big Brother e elogiar os peitos da Luma de Oliveira.
    E eu que esperava a invasão nazista de Varsóvia ouvindo uma polonaise de Chopin! Eu que vagava pelas ruelas de Praha...
    Agora, eu pensei, vou escrever para o Michael. Acho que ele vai me entender.

    Té mais,

    Hector

    ps. Acho que fiquei abalado ontem, ao rever o Festival da Ilha de Wright,1970. Com The Who, Hendrix, Doors, Joni Mitchell... E eu não estava lá!





BH, 07 de fevereiro de 2005

Amigo Darío,

    Como vai?

    Espero que estejas melhor de saúde.
    Quanto a mim, tudo bem.

    Como bom europeu, passei a tarde lendo poesia alemã e ouvindo clássicos. Dvorák, Beethoven, Chopin, Liszt, Wagner, numa tour meio a rapsódias húngaras, polonaises, sinfonias, épicos medievais.
    Estive presente a invasão da Prússia, ao lado de Napoleão, estive esperando a invasão nazista de Varsóvia, vagando pelas vielas de Praha...
    (Ontem, como bom brasileiro, estive ouvindo Chico Buarque (Deus lhe pague!), Chico Science (Manghetown!), além de O Cordel do Fogo Encantado...)

    Estou meio sem assunto, apesar de cheio de idéias! E já não sei qual tema é de seu interesse.(Lembrei um certo episódio: eu lanchando junto a companhia elétrica, na cidade industrial, e então surge o vulto, o Sr. Darío Sabine e comentamos o tosco mondo. E foi a primeira vez que eu mencionei o termo 'Flutuantes'. Quando foi isto? Dezembro de 2000? Depois do natal...)
    Sim, Flutuantes. E artistas são assim. Instáveis, caprichosos, criativos, mas pouco pragmáticos. Flutuando sobre as opiniões e ideologias. O que proclamam hoje, amanhã já contrariam. As opiniões de agora são ironizadas no dia seguinte! Hoje, o cara é um anarquista, na próxima semana, é um defensor do Estado paternalista.
     Os artistas são imprevisíveis – daí o charme que possuem! Nunca sabemos o que desejam afinal.
    (Me apaixonei por uma atriz flutuante, no ano passado, e foi uma loucura, mas acho que já mencionei antes...)
    É isso. Espero que esteja feliz. O que aconteceu com o Darío Sabine?

    Do seu amigo Hector


  


De: Valkyria [amanda.dark@XXX.com.br]
Para: Morpheus [stevam_lucena@XX.com.br]
Assunto: [nenhum]
Data: Wed, 9 Feb 2005 - 19: 29


Eu acho simplesmente lindo tudo o que você traduz e escreve.

Gostaria de manter contato e saber mais sobre você.

Um grande beijo.




De: Valkyria [amanda.dark@XXX.com.br]
Para: Morpheus [stevam_lucena@XX.com.br]
Assunto: Não agradeça...
Data: Thu, 10 Feb 2005 - 18:24


Olá querido Stevam

Boa noite...

É um imenso prazer manter contato com você, querido.

Infelizmente não moro em Minas Gerais, e não posso ver-te declamando essas coisas que escreves tão lindamente...

E quanto à pergunta que te fiz, peço perdão... ninguém pode afirmar quem é o que é, pois a cada instante tudo se renova, tudo se transforma e toma rumo inesperado, e é graças a tão constantes mutações que tive a oportunidade de conhecer alguém assim tão especial como você...

Agradeço.

Um grande beijo,

Valkyria




De: Valkyria [amanda.dark@XXX.com.br]
Para: Morpheus [stevam_lucena@XX.com.br]
Assunto: Re: um poema de Joyce
Data: Thu, 10 Feb 2005 - 18:39

Que linda poesia, querido...

Nossa... há muito não mais escrevia, e confesso que minha vontade cresceu quase em maneira vulgar, de tão intensa e poderosa.

Agradeço-te imensamente.

Você era o que eu precisava para ficar um pouco feliz... E graças a você todas as trevas de minha vida angustiada ganharam um raio de luz, pequenino, mas insistente, que com certeza não irá se apagar...

"Nosso rompido pranto angustiado
Sobe tal um hino - sem fim."

Um enorme beijo, Milord

Valkyria





De: Valkyria [amanda.dark@XXX.com.br]
Para: Morpheus [stevam_lucena@XX.com.br]
Assunto: Em retribuição ao lindo poema
Data: Thu, 10 Feb 2005 - 18:49


Já que iluminaste meu dia com este belíssimo poemas, sinto-me na obrigação de retribuir com um que eu fiz há alguns anos:

(Melodias insanas)

(segue o poema)





BH, 10 de fevereiro de 2005

Prezado Leir Macedo,

Como vais?

    Escrevo estas linhas movido pela curiosidade. Como está o cenário literário aí em Contagem, e, por extensão, a área cultural?
    Sabe que confio na sua atuação. O Alfonso – como anteriormente escrevi – é muito instável, muito dado à caprichos. Precisamos de pessoas sérias na liderança do cenário literário. Como superar a marginalização do poeta?
    Meu convite para os poetas - a participação na Exposição de Poemas - não foi respondido (por que?) e nenhuma outra manifestação (que não a sua) tem chegado de Contagem ( o que há com os escritores locais?)

    Preciso de um voto de confiança. Como poderei divulgar os escritores iniciantes se eles mesmos não se interessam e mesmo se menosprezam? Como a literatura vai movimentar o cenário cultural se vivemos em 'panelinhas'?
    Leir, eu admiro muito a sua obra - seus poemas-mínimos, seus quase-haicais, seus textos caudalosos – e ainda mais a sua pessoa, sendo o artista, o performancer, o agitador cultural.
    Espero que possa haver mútua confiança. (Quando propus tais idéias ao Alfonso, ele se limitou a ironias.)
    Espero que haja mais dialética.


Grato.

Hector Dias




De: Darío Sabine [dario_sabine@X.com]
Para: Hector Dias [hector_dias@XX.com.br]
Assunto: Uma carta (de um ser flutuante)
Data: Thu, 10 Feb 2005 - 21:20


Só mesmo você, mon bon ami Hector, para me fazer relembrar de passagens tão remotas e ao mesmo tempo ainda presentes em minha mente. Claro que era em dezembro de 2000! E eu lendo sua carta acabei percebendo que eu me tornei (ou sempre fui e ainda não havia percebido!) um desses seres flutuantes.

Tu que és ou deveria ser feliz! Vives numa Europa imaginária habitada por Poetas, Pensadores, Escritores, Compositores clássicos; uma Europa feita de livros, pensamentos, idéias...eu, ao contrário, vivo num templo do consumismo, nas ruínas do Velho Mundo sem futuro. Onde a população envelhece com dignidade e as crianças são, acima de tudo, um símbolo de pobreza. Que “mundo” é este? Agora entendo Nelson Rodrigues! Ele sempre dizia que a Europa se tornara entediante, um museu vivo com casas de mil anos, ruas de mil anos, pessoas de mil anos, uma monotonia que em nada evoca e Europa que ele conhecera através dos livros que lera.

Vou ficando por aqui, pois a noite já avançara lentamente sobre mim.




De: Michael Bishop [michael.bishop@X.com.br]
Para: Hector Dias [hector_dias@XX.com.br]
Assunto: Viagens recíprocas
Data: Sat, 12 Feb 2005 - 17:11


Companheiro "Interstellar Overdrive",
Saudações.

Confesso que apesar de não me satisfazer com a desgraça alheia... ela tende a me perseguir, o que de certa forma me traz uma sensação meio retrô, meio nostálgica.

Explico: gosto de ouvir estas sinceras confissões, principalmente quando envolvem figurinhas do tipo Syd Barrett, Jon anderson, ELP, "ratinhos em lâmpadas ou ovos" etc, etc...

Tenho pensado muito sobre a minha existência ultimamente, e, tendo refletido sobre minha real missão, descobri uma única saída: O sacrifício.

"Alea jacta est!" e você?

Cordialmente,

Michael Bishop




De: Morpheus [stevam_lucena@XX.com.br]
Para: Valkyria [amanda.dark@XXX.com.br]
Assunto: uma carta
Data: Mon, 14 Feb 2005 - 17:42

Querida Amanda,

Sinta-se abraçada.

Como demoraste a responder! Até deixaste-me preocupado! Os teus poemas me deixaram preocupado! Suas tendências depressivas são mais profundas do que as minhas! Seus versos cortam mais do que os meus! As únicas poetas que eu colocaria acima de teus versos, no quesito 'dor', são Henriqueta Lisboa e Florbela Espanca. São poemas que carregam uma dor infinita, que nenhum Deus, ou Providência, ou Salvador poderia aliviar.

Lamento que não possas vir ao próximo Leis da Noite, em março. Acabei de acertar minha participação no evento, ao responder e-mails do Conde (que figura! Precisas conhecê-lo!), e estarei declamando versos do TH (e alguns meus) ao lado do grande bardo Arcanjo.

Ah, hoje foi um dia fatigante. Nem pude escrever nada. Fiquei diante do monitor o dia todo, digitando mais catálogos. Ah, eu devia ter estudado programação! Só depois é que pude ler as traduções do Rimbaud e do H. Michaux. Acho que o Barão vai gostar.

Beijos pra você.

Stevam



De: Valkyria [amanda.dark@XXX.com.br]
Para: Morpheus [stevam_lucena@XX.com.br]
Assunto: desabafo a um anjo
Data: mon, 14 Feb 2005 - 01:52

Saudação, meu anjo...

Primeiramente gostaria de pedir desculpas pela quantidade de e-mails que tenho mandado a você ultimamente. Mas, para ser sincera, você é a única pessoa que realmente conversa comigo e me entende, que me dá forças para resistir recentemente...

Há tanta coisa ruim acontecendo... e meu coração mesmo gangrenado e fraco pulsa violentamente a cada nova dor que é adicionada...

Ah, como dói viver!! Como a vida pode ser tão maravilhosamente encantadora, me proporcionando momentos tão felizes como conhecer você, querido. Mas ao mesmo tempo ela é tão cruel, sórdida e amarga!!

Espero voltar a me encantar em breve, meu anjo

Um gélido abraço





De: Valkyria [amanda.dark@XXX.com.br]
Para: Morpheus [stevam_lucena@XX.com.br]
Assunto: um longo e-mail
Data: Tue, 15 Feb 2005 - 03:10



Brasília, Distrito Federal,

Estou deveras cansada, deveras machucada, e sinto a cada minuto uma angústia profunda....
A única coisa que sei é que preciso de ti...
Não sei o porquê dessa necessidade tão fugaz, tão atroz e avassaladora, mas sei que eu preciso muito da tua presença, por mais que ela seja demonstrada através de palavras. Minhas amizades e amores se resumem em e-mails vistos através da fria tela desse computador....

Eu não sei nada sobre você.... conheço apenas seu lindo nome, e sua harmonia (o que me são suficientes), mas mesmo assim sinto um apreço tão grande por ti que só de imaginar-te sofrendo desejo minha própria morte...

E os minutos passam, e as horas passam, e a vida passa ao meu lado e tudo o que posso fazer é olhar..... sentir ela indo embora tão rapidamente e indecifravelmente quanto surgiu e o primeiro sopro de vida foi dado...

Peço-lhe desculpas pelo longo e-mail, peço-lhe desculpas por existir..... mas não tenho a quem recorrer... és o único agora que realmente me entende...

Eu me despeço, ansiando desesperadamente por um abraço seu...

Mein engel, mein lieben....



continua...


LdeM

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