domingo, 3 de abril de 2011

seguindo no Capítulo 2...

[...]





    Muito gentil, o senhor Alfonso Lucena, ao convidar o colega para uma tarde de distração e discussão literária, em sua residência nas alamedas do Eldorado. HD prontamente aceitou o convite e deixou-se a observar o jovem promotor cultural, enquanto este cuidadosamente relia uma tradução de poemas franceses que o próprio HD concluíra semanas antes. Sim, Alfonso Lucena aprecia Baudelaire, e principalmente Rimbaud, lembrando outras boas traduções brasileiras.

    - Meu prezado, considere que a nossa literatura é sobretudo antropofágica.

    E Alfonso não hesitava em apontar influencias aqui e ali com o mesmo estilo aforístico, curto e direto. Não que fosse dado a slogans, não era publicitário. Mas gostava principalmente da síntese.  Ainda que se entregando a análise de textos e contextos e arriscando-se (ousando mesmo!) escrever crítica literária.

    O curso ao qual se dedicavam, por toda a semana, não serviu apenas para unir as duas mentes, mas apresentou diante dos olhos de HD, impressionado, a figura do poeta performático Leis Macedo, que não se limitava ao papel, mas navegava nas ‘infovias’, distribuindo versos aos internautas. Corpo e lirismo se mesclavam nua personagem carismática que movimentava não só os amadores (e profissionais) da literatura, como o todo cultural da moderna Contagem, onde Macedo se tornara o produtor cultural por excelência.

    Chegou timidamente, mas com os olhos em brilhos sedutores, pesando bem as palavras.

    - Vejo que você capturou a atenção do Alfonso. O que é bom sinal.

    E justamente naquela tarde, Hector Dias (pois ali estava assinado na capa do caderno azul e verde) rabiscou sob o seu nome dois curtos versos,

                                                   olhar solto sobre os telhados
                                                   solto nas alturas do mundo

    E Macedo, curioso, queria mais indícios da culpabilidade poética de HD, que precipitou-se em elogios a Manuel Bandeira e acabou em defesas à Vladimir Maiakovski.

    No entanto, Macedo não apresentava somente versos, mas sobretudo, sinestesia. Explica-se. Em tal persona tudo convergia para a arte poética, seja o olhar, o toque, e gestos, cheiro, traje, posição corporal.

    - Poesia não é papel, não é som. É estar-no-mundo.


    Estava explicada a admiração de Alfonso Lucena pela figura de Leir Macedo, e não menos pela estilística de Carlos Antônio. Se o primeiro gotejava lirismo a cada gesto, o segundo era sobretudo escritor, derramando sílabas e sílabas sobre celulose.

    Via-se que Carlos Antônio não era apenas um sujeito sossegado, como dizia o Alfonso, mas sobremaneira meditativo. Abria a boca somente quando inevitável. E falava pouco. Não que odiasse a oralidade, isso não. Era capaz de recitar longos poemas de cordel, acompanhado por exímios violeiros. Mas a oralidade ra isso: sobretudo arte. E dizia, olhar pousado, “Não desperdicemos as palavras. Um dia elas poderão fazer falta.”


    Naquela tarde, Alfonso e seus amigos foram generosos com um lanche ao estilo tropicalista. Novamente explica-se. Frutas nacionais, bebidas nacionais. Maçã paulista, vinho gaúcho, cachaça mineira. E não hesitaram em abrir o espaço para declamações, mais suculentas ainda. Era inegável o bom gosto de Alfonso Lucena em congregar os artistas de escrita elegante e presença marcante.

    E também mulheres. Poucas e discretas. Assim pareciam inexistentes. Daquelas que pouco falam, por isso amam os poetas, que falam demais. Glória era aquela com ares de anfitriã, até porque ajudara Alfonso a organizar tudo. Assim que HD chegou pôde surpreender o casal num longo beijo, nas pausas da arrumação geral. Alfonso a apresentou sem hesitação, mas esboçou um sorriso do tipo “Você chegou um tanto cedo, hein!”, mas claramente sem recriminação, visto seu tempo todo dedicado a massagear o ego de cada visitante. Sobremaneira atento e totalmente voltado para si. E nem dispensara a gravata. E até um vereador aparecera. Dizia-se que a mãe do mesmo escrevera em tempos outrora versos até consideráveis.

    Inegável que Alfonso fosse um bom anfitrião, isso HD se dizia a cada palavra amável ou olhar de infinda atenção. Olhares destes que somente Alfonso Lucena possuía, daqueles do tipo “Fique à vontade, vamos lá, desabafe, meu caro!” E Glória sempre ao seu lado, expondo os variados desejos dos convivas. Mas a outra garota, de óculos e sem maquilagem, quem seria? Escrevia também, Alfonso revelava. E a outra, magra e introspectiva? Autora de belos poemas e fã de artes plásticas. E assim por diante. Mas nenhuma deu qualquer atenção ao curioso. Pois que recebiam cada apresentação com sorrisos solenes. E seguiam-se. Eis o famoso Carlos Antônio, Prazer em conhecê-lo, tenho lido obras tuas. Oh, isso muito me alegra, não duvido que tenha sido por culpa e cumplicidade de nosso Alfonso!

    Um professor muito sério em suas convicções sobre o multiculturalismo discutia com Leir Macedo. Logo é apresentado o Professor Antunes, da nobre Academia e versado em letras e filosofia política. Sempre emaranhado no próprio raciocínio, o Professor se perdia em pausas e recomeçava em outro ponto, anteriormente abordado, reatando a argumentação com exemplos que pediam novos exemplos.

    Ao seu lado se apresentam estudantes, dos quais HD somente entendeu e conservou os sobrenomes, Ribas e Soares. Entendiam que o multiculturalismo e certa imposição do “politicamente correto” ao contrário de expandir, limitavam a liberdade de expressão com interdições e demarcações demagógicas.

    - Um excesso de “apostos”, de explicações, que não passam de novos véus a camuflarem a feiúra, que substituem rótulos por novas rotulações genéricas. Vejam os senhores, não s diz “favela”, ms “comunidade em risco social”.

    E todos os olhares concordavam com a exposição do Professor Antunes, que acabava de aceitar um suco de manga, servido pela poetisa fã de artes plásticas, logo a perguntar se o escritor Hector Dias aceita uma taça de vinho. Oh, sim, muito grato. Em seguida, tentavam acompanhar as premissas do Professor em deduções, induções e analogias até a conclusão que perdia o efeito não fossem os exemplos.

    O estudante Soares, com forte presença e voz de impor respeito, insistia em que a questão consistia na “imutável sede de poder” e na não menos escandalosa “manipulação dos fatos e eventos” sempre presente na “mídia popular”, que de popular nada apresenta, exceto o baixo conteúdo e estilo, mas imposta de cima para baixo, por “corruptos e corruptores de mentalidade reacionária”.

    E se Alfonso se detinha a ouvir um trecho, logo não podia acompanhar, uma vez que os seus deveres de anfitrião não o permitiam. Mas sabia de antemão que Soares não era “marxista”, mas outro arrivista sem espaço e oportunidade. Fora do jogo e batendo à porta.

    Uma das mocinhas perguntava sobre o irmão de Alfonso, o Stevam, rapaz muito gentil e atencioso. “Inclusive sexualmente?”, o olhar de Alfonso deixava escapar, mas sem mudar o tom de voz ao responder que o irmão raramente se interessava por semelhantes encontros, tertúlias ou festividades outras, mais ocupado em enterrar seus mortos. O que foi difícil de entender, tanto para a mocinha, quanto para o HD que ouvia a conversa em segundo nível, arriscando-se a perder outro sutil exemplo do Professor, que agora abordava os meandros ideológicos da Guerra Civil Espanhola.

    - Uma terra com imperiosa tradição monárquica ser ameaçada por uma república socialista e sem derramamento de sangue? É meio surreal, meu caro! Os senhores me permitam, mas o bolchevismo não se aplica sem sangue, compreendem?

    - Poucos estão dispostos a cederem sua fatia de poder. – se mostrava o estudante Soares.

    - Daí a impossibilidade do socialismo? – a primeira participação do HD.

    - Se considerarmos a propensão humana ao egoísmo e ao aumento do poder sobre os demais. Mas sei que o senhor objetará que não há semelhante “natureza humana” egoísta, ao que argumento que pode até não haver, mas as condições de carência e superabundância, bem como as “posições de hierarquia” e outras burocracias, tal a necessidade de um Estado para melhor distribuir a renda, em suma, tais condições criam um ser humano ávido de poder e para tal não hesita em apelar aos meios mais mesquinhos e violentos.

    - A Espanha viu-se dividida até a medula, e a ‘quinta-coluna’ não foi exatamente um mito, ou figura literária. – com ênfase acadêmica o estudante Soares, enquanto o estudante Ribas limitava-se academicamente a ouvir e elaborar anotações mentais.

    HD percebia em Soares uma certa leitura de História por uma perspectiva maquiavélica, neodarwinista, como se não houvesse alternativas ao que vivemos. E disse o que pensava. Soares não negou, mas apontou certo reducionismo. O Professor continuava a defender o pluralismo e a democracia, não hesitando em atacar a vergonha que era a ditadura em Cuba e lembrar atrocidades dos totalitários, de Auschwitz aos arquipélagos Gulags.

    - Espero que o Professor concorde comigo que o Stalinismo não passou de um Estatismo, ‘fascismo de esquerda’, se permitem a imagem, e não um exemplo de democracia socialista. Sendo até pleonasmo, uma vez que a verdadeira democracia só pode ser socialista.

    O Professor, diante das palavras e da taça erguida de HD, fitou por um instante o olhar na bandeira nacional, que Alfonso deixara ao fundo da varanda. Afinal, em leve inclinação, aceitou o olhar do interlocutor.

    - Meu caro, acho ser desnecessário dizer que democracia pressupõe uma “arena política”, com vários interesses em choque, que se entregam ao diálogo e busca de acordos, mas distantes do consenso, que julgo sempre imposição, mas em diálogo, digo, de interlocutores que representem as reivindicações de necessidades das diversas partes, daí ser “representativa”.


    HD visivelmente concordava, e até aceitava outra taça de vinho, Obrigado, Glória. O Professor, apesar de preso no labirinto, tinha lá suas razões e não seria Hector Dias a provocar qualquer modificação. Ainda mais essa de “consenso, que julgo sempre imposição”.

    - Concordo, Professor, mas o senhor se refere ao socialismo ligando-o a movimentos totalitários, e creio que tal abordagem acaba por deslegitimar a luta por um regime mais igualitário. Não estou panfletando, julgo Stálin no mesmo tribunal ao lado de Hitler e Mussolini, mas sempre lembrando que a Rússia jamais esteve preparada para um experiência socialista e dizer “socialismo real” é panfletar segundo o gosto das direitas.

    - Mas, meu caro amigo, não se trata de esquerdas ou direitas aqui! E o senhor bem vê que não há partidarismos de qualquer espécie em nosso meio. Somos literatos. Inclusive, meu prezado, eis aqui textos de minha autoria, para os quais gostaria imensamente de uma consideração de vossa parte.

    E assim o Professor saiu pela tangente e o grupo se dispersou. Leir Macedo logo fez valer sua voz e presença inaugurando um momento, digamos, mais lírico do que político, e chegando a um consenso, não sem certa imposição, pois o estudante Soares engolia algo a declarar, mas bem acolhido pelos demais, principalmente pelo poeta Carlos Antônio que não demoraria em compartilhar com os convivas o lirismo vivencial de suas lembranças em versos.

    Afonso Lucena aprovou as novas disposições com um gole de vinho.




    Quando Stevam Lucena descobre que Bianca Maria guardou um poema de autoria dele, chamado “Catarse”, sobre a liberdade lírica, um acróstico, na verdade, desde que ele o fixou na parede roxa externa do Matriz, numa madrugada de LEIS DA NOITE, de visitas noctívagas, ele lembra profundamente o show que inspirou o poema, este que o mantém ligado a musa Bianca, que ainda ele ainda nem conhecia.

    Quando o show em suas memórias? Depois da visita ao túmulo de Sônia – o seu passado. Em plena primavera de 2003...


    Foi num crepúsculo que Stevam encontrou o poeta Leir Macedo, o sem travas na língua, não falando sobre poesia, não desta vez, mas sobre políticas culturais, marketing cultural, leis de incentivo, mecenato, lei rouanet, produção cultural, sei lá mais o quê cultural, agitando (suas mãos agitadas) no ar tanto cenas cinematográficas quanto gestos teatrais, atraindo a atenção dos transeuntes testemunhando dias de fadiga.

    Mídias à parte, veio um show de todas as mídias. O folheto de divulgação já trazia música, poesia, teatro, magia, performances, circo, fogo, terra, água, ar, ritual, flores, máscaras, anjos, cheiros. No palco em trevas engolfantes, o contraste de um trapézio vermelho, ou bonecos numa escada, um tecido branco, espectral (um cortinado enrolado) caído do teto. Um palco entulhado de instrumentos, preenchido por incenso e velas acesas. Uma voz. Voz das profundezas.

    Apresenta o vento, aquela voz lá do fundo, enquanto uma nuvem de incenso se eleva – uma densa névoa – paira sobre o público, vem perfumar os pulmões estressados.

    Surge uma bailarina, bailando entre as nuvens de incenso, com sua face angelical, os pés flutuando na leveza dos passos. Então, da penumbra, surgem bolas de fogo – a voz exalta o fogo, o ardor, o amor – que giram e giram, num carroussel de línguas de fogo ferindo as trevas do palco – e um solo de piano – e um também surdo – e um poema algo pagão...

    Dois outros músicos se fazem presentes, um baixista e um guitarrista, todos de vestes sombrias, faces pálidas, expressões soturnas. Logo a vocalista – que a pouco brincava com fogo – entoa uma canção triste, tristonha, em voz melancólica, e cai ao chão em gemidos atrozes!

    As canções refletem a sonoridade e a aspereza da língua anglo-saxã, mas as poesias se elevam em bom português, quando a vocalista começa a declamar, assim um pop inglês sombrio, as baladas de Morrissey, as imagens doloridas de um The Cure, mesmo algo intimista como um Radiohead...

    Uma bateria eletrônica (tocada com perícia pela exímia percussionista) torna o clima ainda mais pesado. Entoam a bela – e triste – Rosa de Hiroshima, “Sem cor, sem perfume, Sem rosa, sem nada”, quando dilaceram uma rosa vermelha – no palco, cortando-a pela haste. E oferecem, “Sem rosa, sem nada.”

    Uma pausa. Aplausos. Stevam acorda do transe ao ressoarem, ao seu lado, as palmas de Leir Macedo.


(O poema foi escrito uma hora depois, e divulgado entre poucos. A cópia derradeira ficou com Bianca Maria, que se apoderou da mesma na parede roxa naquela madrugada do ‘Leis da Noite’. Bianca que ainda conheceremos dois anos depois.)





     Em fins de novembro, no auditório da Prefeitura, o lançamento da obra inédita de TH. Sem a presença de qualquer familiar, sem a aparição de qualquer vulto noturno, somente os tradicionais grisalhos da Sociedade Literária, que almejavam um evento político, visto o convite ao prefeito. O fato é que o próprio nem compareceu, enviando um representante.

    Nada de excepcional, nada que fugisse ao cronograma (cuidadosamente esboçado e distribuído por HD) e por isso o evento teve o mérito de ser comum. O que certamente não agradaria ao homenageado TH.

                                      Tal um pântano de lágrimas borbulha
                                  O íntimo furor em sorrisos falsos
                                      Dentro queimam indigestas verdades

    Stevam se angustiava, indagando se estaria fazendo a coisa certa. Talvez os poemas devessem mesmo mofar, e os versos tornarem-se pó disperso no vento. Mas e se ele fosse um outro Max Brod, que divulga ao mundo um genial Kafka?

    HD até entediado nos bastidores. Convidou Elen Lauria, que nem se dignou a inventar desculpas. Muda, muda ao telefone. Agora ele observa a filha da Diretora, com seu corpinho fascinante num vestido branco e com sandálias translúcidas.

                                       Mentes perdidas com olhares severos
                                     Exigem uma trilha para além da dor
                                     Um caminho batido até a esperança

    Na mesa de entrada, um caderno com cento e dez assinaturas somente registrando-se a venda de vinte e dois exemplares do soturno “Vivendo Ainda...”. Também havia um buquê de flores, caso surgisse a irredutível tia do falecido autor. Alfonso fizera um acordo com a anciã, e enviou um convite. Mas tudo em vão. A tia, mesmo desconfiada, deu crédito à versão de Alfonso, que insistira em que TH delegara os poemas para o amigo Stevam, antes de morrer. Ninguém estava animado a responder processo por invasão de domicílio.

    Na cerimônia, sem muita pose, HD declama o poema-título, na abertura, e Stevam convidou uma atriz, que encantou a todos com uma performance lírica de um poema imagético de sentimental visão feminina.

                                    E evitar a colheita de íntimas mágoas
                                    Junto ao maculado mármore das lápides
                                   Pranteando a medonha ruína da carne

    Stevam até que achava estranho, esta exposição de versos que somente ele conhecia, sussurrando-os ao vento, quando perambulava solitário, dormente a dormente, seguindo os trilhos da ferrovia.

    Mas ele se lembra, uma tarde rabiscou um soneto, uma homenagem póstuma, para Sônia Regina.

                                   Incertezas sob as asas da tristeza
                                   Vivendo uma ilusão assim tão estranha
                                   Atormentadas visões guiam os passos.



(Nota: o poema “Vivendo Ainda...”, manuscrito, em folha ofício, é considerado o último poema de TH, que passou a limpo em cuidadosa redação uma boa parte de seus textos, no anoitecer de 31 de dezembro de 2002, horas antes de se matar.)




(do diário de Stevam Lucena)


    26 out

    Ontem outra daquelas festinhas do meu irmão. Preferi ir ao cemitério. Saí cedo. Nem vi ninguém. Família é um fardo sobre a gente.

    Diz que é importante a vida social. Mas sei que vive pelos cantos. Vivemos de uma contradição. Pai marxista. Mãe esotérica. Nem materialistas, nem espiritualistas.

    Diz que é para divulgar a poesia, mas ligam o som e tentam agarrar as mocinhas. Desculpas de literato. Vive achando que é o mais responsável. E eu sendo mais velho deveria ser mais sociável. Que eu é que deveria enturmar com os lumes de nossa high society.

    Claro que agradeço sua ajuda aí no lançamento do TH, mas ele faz chantagem velada, isso eu sei. E fica me culpando por eu ter saído da faculdade. Ele entre a literatura e a sociologia.

    Estou com sono. Desde ontem sinto o cheiro de flores mortas.



    06 nov

    Fui ontem ao Leis da Noite, aquele evento sombrio no Matriz. Colei na parede externa uns poemas, uns quinze. A maioria do TH. Uns nove. Meus, o restante. E encontrei o Stevam, o meu xará moreno e irônico. Estava atento aos vultos das vampirinhas.

    Poucos se aproximaram para ler os poemas. Lá dentro havia um sarau mas eu não pagaria para entrar. E o importante é divulgar o lançamento do opúsculo do TH. Não podemos deixar estes poemas enterrados com o autor.


    Nov (o dia??)


    Ainda lendo e relendo os papéis do TH. Toda essa loucura que ele escrevia, e anotava em papéis soltos, sem qualquer ordem. Escrevia em suas andanças, escrevia na penumbra do quarto, ou na solidão das suas noites acordadas (palavra riscada) insones.

    O que ele fazia? Se expressava o que mais poderia fazer? E imagino o próprio TH zombando de tudo e de si mesmo. Zombando? Não, lamentando.

    Se expressando? Nossos humanos, demasiadamente humanos, se expressam, e como se expressam! Deixam transbordar seus egos inflados, e inundam o mundo, as páginas e as telas, com suas confusões e expressões, com seus manifestos e suas retóricas, com suas preces e suas palavras de ordem, com suas metafísicas e seus epitáfios, com suas performances chocantes, com suas músicas ligeiras, suas idealizações e delírios de poder, com seus suplementos literários e seus planos de governo, com suas revistas em quadrinhos e seus jogos eletrônicos, com suas fotos pornográficas e seus desenhos a bico de pena, com seus tratados d auto-gestão e seus comitês de salvação pública, com suas denúncias de devastação ambiental e seus manuais de auto-ajuda, com seus tambores e batuques e seus vestidos, anéis e braceletes, com suas ambições de sucesso e seus quinze minutos de fama, co suas utopias e massacres em nome da fé, com suas agonias e desejos, com suas flagelações em público, com suas risadas histéricas, com suas confissões na rede virtual, com suas tatuagens de violência colorida, seus piercings e auto-mutilações, com seus fanatismos e piedosas exibições, com seus corpos à venda, com seus corpos em chamas, com suas maquilagens e máscaras, com seus carros do ano e celulares com câmera digital, com suas coberturas na zona sul e seus casebres na periferia, com suas enxaquecas e dores de dente, com seus cadáveres e suas invocações, com seus entes queridos e seus ectoplasmas balbuciantes, com suas greves de fome e suas corrupções sempre negadas com seus terroristas e líderes religiosos, com suas bombas e lágrimas, com seus sonhos e pesadelos

(texto incompleto, não-concluído)


    22 nov

    Cheguei cansado. Maratona e tanto. A sorte está lançada. O livro do TH está oficialmente em mãos públicas. Espero que seja respeitado. Sou suspeito ao elogia-lo, mas ali há talento.

    Alf estava sério, do jeito que gosto. Sem gracejos. E o produtor, o Hector, surpreendeu com eficiência. Manteve a coesão do grupo e me salvou do desespero. Serei grato.

    O que mais posso escrever? Vou dormir um pouco, com o sossego de um dever cumprido.

    TH será lembrado.





continua...


LdeM



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